NOTÍCIAS
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Soluções concretas em Direitos Humanos são fruto do diálogo com a sociedade, diz presidente do CNJ
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou a primeira reunião do Observatório dos Direitos Humanos (ODH) sob a gestão do ministro Luís Roberto Barroso nesta terça-feira (28/11). O presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF) ressaltou os assuntos que serão trabalhados pelo ODH até 2025 e a preocupação em desenvolver um plano cidadão de segurança pública, que atenda toda a sociedade, sem discriminação de qualquer espécie.
O primeiro encontro dos componentes do colegiado com o ministro Barroso teve o objetivo de apresentar os participantes e mapear os problemas. O ministro destacou que um dos eixos de sua gestão busca estreitar o relacionamento com a sociedade. “Queremos ampliar o diálogo, ouvir as instituições e produzir soluções concretas, sobretudo para os grupos mais vulneráveis”, disse Barroso.
Para ele, as questões apresentadas no grupo podem influenciar as decisões do Judiciário. “Os Direitos Humanos devem convergir e aderir à causa da humanidade, dando à sociedade a oportunidade de vocalizar e apresentar suas opiniões e observações. Isso deve gerar propostas concretas”. O ministro lembrou a atuação do ODH desde sua criação, que resultou em entregas como o formulário Rogéria, utilizado nas delegacias para atender a comunidade LGBTQIA+; e o Pacto do Judiciário pela Equidade Racial.
Barroso também informou que o CNJ está trabalhando junto com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para criar um programa de bolsas de estudo para candidatas e candidatos negros que queiram ingressar na magistratura. “Quem tem que sustentar a casa não consegue fazer um estudo sistemático para entrar na magistratura e queremos dar essa oportunidade”, afirmou. De acordo com o ministro, a ideia é criar um projeto nacional, que possa ser feito por meio de Ensino à Distância.
O objetivo é começar pela preparação dos candidatos para o Exame Nacional da Magistratura, em 2024, a fim de aumentar as chances de aprovação de pessoas negras. “Precisamos ter uma formatação e financiamento adequado. Outros projetos nessa linha não produziram os resultados desejados e, por isso, estamos fazendo isso com cuidado”, afirmou.
Segurança pública
Quanto à discussão sobre a segurança pública, o presidente destacou que a pobreza e a desigualdade são combustíveis para a falta de segurança e para a criminalidade. “No entanto, esses ambientes também precisam ter segurança pública – para que as pessoas possam sair para trabalhar tranquilas e não ter seus filhos cooptados para a marginalidade. Não podemos fechar os olhos para essa realidade preocupante. Precisamos de um plano cidadão de segurança pública, sem violentar e marginalizar as pessoas de baixa renda”, afirmou.
O ministro ressaltou ainda que o ODH é formado por inúmeras instituições e pessoas públicas que têm a força e influência necessárias para “produzir resultados capazes de impactar para bem a vida das pessoas, especialmente dos vulneráveis. E espero que possamos fazer o bem, juntos”.
A secretária-geral do CNJ e coordenadora-geral do ODH, Adriana Cruz, agradeceu a parceria com a sociedade civil, ressaltando que a atuação conjunta tem “ampliado a luta e o respeito às questões dos Direitos Humanos”.
O conselheiro Giovanni Olsson lembrou que o CNJ lançou o Prêmio de Responsabilidade Social e Promoção da Dignidade, instituído pela Resolução CNJ 513/2023, que dá mais espaço e visibilidade a pessoas e instituições envolvidos nessa temática. O reconhecimento, que está com inscrições abertas até o dia 30 de novembro, será dado a quatro áreas centrais: responsabilidade social do Poder Judiciário; enfrentamento ao tráfico de pessoas; promoção da inclusão e combate da discriminação em todas as suas formas; e a promoção do trabalho decente.
Para o conselheiro do CNJ Pablo Coutinho, que também participou da reunião, o ODH alcançou seu objetivo de tornar permeável a comunicação de todos os segmentos da sociedade. “A partir desse diálogo, podemos estabelecer como o Judiciário pode interferir para concretizar o projeto de Constituição que construímos”.
A ideia é que o Observatório faça reuniões itinerantes a partir de 2024, para conhecer as realidades locais. A próxima reunião, prevista para o primeiro trimestre, será realizada em São Paulo.
Sociedade civil
Vinte e duas instituições participaram da reunião. A questão da segurança pública foi reforçada pelos participantes, tanto para pessoas negras, indígenas, quilombolas e da comunidade LGBTQIA+. Arrolados como embaixadores do ODH, a cantora e a embaixadora do Unicef/Brasil Daniela Mercury e o produtor musical e presidente do Instituto Alok, Alok Achkar Peres Petrillo, defenderam o trabalho conjunto para fortalecer a inclusão à democracia e a manutenção da paz. A ativista indígena Txai Suruí também integra o observatório.
O ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Augusto Cesar Leite Carvalho disse que o órgão está empenhado no programa de enfrentamento ao trabalho escravo, tráfico de pessoas e proteção ao migrante. Ele ressaltou que as várias espécies de discriminação no Brasil revelam uma discriminação estrutural e tem a ver com a necessidade de perceber que isso fez parte da formação cultural brasileira.
Já a representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Moema Freire afirmou que é preciso reforçar o conceito de Justiça centrada nas pessoas. Também é necessário fortalecer a democracia e a participação social, promover o desenvolvimento humano e garantir os direitos humanos, dando capacidades e formação para uso de seus direitos.
A representante da Anistia Internacional Jurema Werneck ressaltou a mensagem que o CNJ dá à sociedade sobre o que significa ser responsável e coerente, destacando a presença das juízas Adriana Cruz e Karen Luise Villanova, mulheres pretas, na liderança do Conselho e do Observatório. “O CNJ reconhece o lugar que as mulheres negras têm na sociedade, sem precisar ceder ou negociar qualquer espaço. Estamos em busca de muito mais, mas isso nos enche de orgulho”. Ela também reforçou a dimensão do direito de segurança de todas as pessoas, destacando a alta letalidade de jovens negros cometida pela polícia em serviço.
Também foi destacada a luta pela humanidade e dignidade dos povos indígenas e quilombolas – que envolve também direitos territoriais -, dos povos Romani (ciganos) e, ainda, aspectos dos direitos das pessoas trans e das pessoas com deficiência, racismo religioso, proteção à primeira infância e a necessidade de repensar a estrutura do sistema de justiça quando reproduzem os padrões discriminatórios da sociedade.
A reunião foi transmitida ao vivo pelo canal do CNJ no YouTube. Reveja aqui:
Texto: Lenir Camimura
Edição: Sarah Barros
Agência CNJ de Notícias
The post Soluções concretas em Direitos Humanos são fruto do diálogo com a sociedade, diz presidente do CNJ appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Infância negra é desafio diante do racismo estrutural brasileiro
“Pai, por que os policiais só abordam pessoas da minha cor”? Perguntas como essa sempre fizeram parte do...
Portal CNJ
28 DE NOVEMBRO DE 2023
CNJ aprova instituição da Semana Nacional dos Juizados Especiais
Os desafios dos juizados especiais federais e suas interações com os juizados especiais estaduais serão debatidos...
Portal CNJ
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Justiça e prefeitura de Florianópolis participam da Semana Nacional da Regularização Tributária
Iniciativa do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em parceria...
Portal CNJ
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Inovações tecnológicas da Justiça brasileira despertam interesse de integrantes da OEA
Uma comitiva com representantes da Organização das Estados Americanos (OEA), da Associação dos Juízes Federais...
Anoreg RS
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Cerimônia Nacional de Premiação do PQTA 2023 acontece no dia 1º de dezembro
O evento que acontecerá no Hotel Royal Tulip, em Brasília, terá transmissão ao vivo pelo YouTube da Anoreg/BR