NOTÍCIAS
24 DE NOVEMBRO DE 2023
Futuro da judicialização da saúde tem perspectiva de aumento no Brasil
Aumento de custos; incorporação de tecnologias; envelhecimento da população; efetividade, eficiência e segurança dos tratamentos; fraudes; sustentabilidade financeira; remuneração por procedimentos; subfinanciamento; e, enfim, a judicialização de demandas por atendimento. A rotina que profissionais da saúde e pacientes vivem em hospitais e clínicas públicas e privados e que está sob atenção de magistrados, gestores do governo e dos responsáveis pelas operadoras de planos impõe desafios hoje e para o futuro. E o contexto pós-pandêmico indica a necessidade de ajustes em todo um sistema para adaptação a um cenário em transformação.
As perspectivas para o atendimento da população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) e clientes das operadoras de saúde suplementar no Brasil pautaram o último dos painéis no encerramento do II Congresso do Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde (Fonajus), uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No final da manhã desta sexta-feira (24/11), o diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello, e o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, se orientaram pelo tema Futuro da Assistência à Saúde para apresentar análises a respeito de uma realidade dinâmica, que ainda está sob o impacto da maior tragédia sanitária da história, a pandemia da covid-19.
“O futuro da saúde depende fundamentalmente do aumento, com urgência e responsabilidade, dos investimentos, do financiamento para o sustento e a melhoria da prestação desses serviços”, avaliou o supervisor do Fonajus, conselheiro Richard Pae Kim. Desde 2010, por meio da Resolução n. 107, o CNJ conta com um fórum para o monitoramento e a resolução das demandas de assistência à saúde a partir da elaboração de estudos e da proposição de medidas e normativas de aperfeiçoamento de procedimentos.
Mais idosos, maior demanda
Projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que a população idosa do Brasil deverá chegar, em 2050, a quase 70 milhões de pessoas, ou seja, 29% do total. Essa mudança na estrutura etária implicará maior demanda por remédios, hospitais, tratamentos, mão de obra especializada, exames, infraestrutura. E isso é indicativo da necessidade de ampliação na destinação de recursos públicos e da necessidade de mensalidades mais caras para os usuários dos serviços das operadoras.
“Se os beneficiários não tiverem condições de financiar e de pagar os seus planos de saúde, teremos uma migração muito grande e sobrecarga no setor público”, destacou Rebello, que defende mudança na gestão das empresas. “Essa visão, de operadora como mera intermediadora financeira, o sistema e o setor não mais suportarão. É preciso que se passe a ter cuidado na gestão do beneficiário, numa gestão do cuidado, colocando à frente, no foco, o valor em saúde, para que os melhores desfechos sejam prestados a um custo adequado, sob pena de termos dificuldades na sua manutenção e sustento”, alertou o advogado que está à frente da ANS desde julho de 2021, com mandato até dezembro de 2024.
O secretário de Saúde do Paraná compartilhou, durante a sua apresentação, as alternativas que adota no estado desde a pandemia de covid-19. “O impacto foi brutal, com o negacionismo, a fake news, e muita incerteza durante a maior crise sanitária de todos os tempos”, disse. O médico e deputado federal licenciado explicou que decidiu incrementar em 150% os valores dos repasses feitos pelo governo do estado em relação à tabela do SUS para o pagamento de procedimentos eletivos. “E isso foi para manter abertas as portas dos nossos hospitais, que foram nossos parceiros durante os piores momentos.”
6% do PIB
Beto Preto propõe a adoção efetiva do modelo de atenção à saúde voltado para condições crônicas, uma visão preventiva. E defende a organização das redes de atenção à saúde, a ênfase no papel da atenção primária e o fortalecimento da regionalização e da governança regional. O secretário também é favorável à incorporação de novas tecnologias pelo SUS e reivindica a ampliação da participação do Ministério da Saúde no financiamento do sistema. No entender dele, deveria passar a contar com recurso de 6% do produto interno bruto (PIB), em vez dos atuais 3,8%, a fim de bancar os gastos públicos com saúde.
As ponderações de Preto e Rebello têm em comum a preocupação com a sustentabilidade financeira dos serviços público e privado de saúde no Brasil ante uma crescente demanda por atendimento e pela adoção de recursos tecnológicos que, em geral, impõem mais investimentos. Isso ante um contexto no qual o Poder Judiciário tem papel definidor. “As mudanças legislativas e na jurisprudência que nós tivemos no ano passado foram extremadas. Precisamos passar logo por essas águas turbulentas e buscarmos alcançar a segurança jurídica até para que todos os atores consigam fazer os ajustes nos seus modelos de remuneração, nos seus contratos para atender e estabilizar definitivamente esse sistema na saúde suplementar”, explicou Pae Kim na conclusão do painel.
Leia mais: CNJ aprova orientações para o cumprimento adequado de decisões judiciais em saúde
Fonajus detalha recomendação do CNJ para aperfeiçoar fluxo de decisões judiciais em saúde
Especialistas debatem futuro e dilemas éticos da judicialização na saúde suplementar
Prêmio Justiça e Saúde destaca ações que promovem soluções inovadoras
Uso da Inteligência Artificial agiliza tomada de decisões judiciais em processos de saúde
Encerramento
Ao encerrar o evento, o supervisor do Fonajus destacou a atuação dos membros dos Comitês Executivos nacional, distrital e estaduais, além dos componentes dos NatJus. “Agradeço a todos os envolvidos, que com muito sacrifício conseguem auxiliar o Judiciário a julgar melhor e que contribuem para a melhoria também do sistema de saúde em seus respectivos estados”, ressaltou o conselheiro, que também se despede da supervisão do Fórum em dezembro, quando encerra seu mandato no CNJ.
A mesa de encerramento contou com as presenças do presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), desembargador Luiz Fernando Tomasi Keppen; do presidente da Agência de Saúde Suplementar, Paulo Rebello; do presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Frederico Mendes Júnior; do conselheiro federal e ouvidor-geral da Ordem dos Advogados do Brasil, José Augusto Araújo de Noronha; do diretor da Escola Judicial do Paraná, desembargador Ramon de Medeiros Nogueira; do diretor da Fundação Faculdade de Medicina e integrante do Comitê Executivo do Fonajus, Arnaldo Hossepian; do diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio Libanês, Luiz Fernando Reis; e da ex-coordenadora do NatJus e atual Diretora do Foro da Justiça Federal da 4ª. Região, a juíza federal Luciana da Veiga.
Reveja o evento no canal do CNJ no YouTube
Texto: Luís Cláudio Cicci
Edição: Thaís Cieglinski
Agência CNJ de Notícias
The post Futuro da judicialização da saúde tem perspectiva de aumento no Brasil appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
24 DE NOVEMBRO DE 2023
Prêmio Justiça e Saúde destaca ações que promovem soluções inovadoras
Ao todo, 10 práticas inovadoras, que contribuem para dar mais qualidade e efetividade às decisões judiciais em...
Portal CNJ
24 DE NOVEMBRO DE 2023
Família por amor: em Mato Grosso, casal adota quatro irmãos
Pequenos milagres de Deus”, assim que a mãe de primeira viagem Allays Martins de Souza, 33 anos, se refere a cada...
Portal CNJ
23 DE NOVEMBRO DE 2023
Jornada da Equidade Racial: no TST começa 6.º Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) abriu, na quarta-feira (22), o 6.º Encontro Nacional de Juízas e Juízes...
Portal CNJ
23 DE NOVEMBRO DE 2023
No Tocantins, ações de inclusão do TRE permitem que jovens da etnia Krahô garantam direitos
Mariana Panpry Krahô tem 18 anos e mora na Aldeia Morro do Boi, próximo à Aldeia Mangabeira, no município de...
Portal CNJ
23 DE NOVEMBRO DE 2023
4ª Jornada de Leitura no Cárcere inicia abordando poder transformador da leitura
Com o tema “Porque a leitura abre portas”, teve início na quarta-feira (22/11) a 4ª Jornada de Leitura no...